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Tela Sociológica exibe filme “Sede de Viver”

22/01/2018 15:39

A TELA SOCIOLÓGICA abre o seu espaço, dia 25 de janeiro, às 16 HORAS, na sala de vídeo II (CCHL/UFPI),  para expor obras de um clássico nome das artes plásticas mundial. Artista que ocupa a histórica galeria dos mais significativos criadores. Um conjunto de seus belos quadros ganhará projeção telânica.

Estou falando de Vincent Van Gogh na lente exibida pelo cineasta Vincente Minnelli no filme SEDE DE VIVER (Lust for Life), por ele dirigido. Contemplamos a produção artística exposta para a visitação pública e pouco sabemos da pessoa do seu criador.

A figura humana, suas ambiguidades, carências, sonhos, virtudes e limites. A Intimidade de quem cria pincela o que produz para externar as suas concepções. Privado e público na aquarela existencial. Quem está por trás da beleza da imagem enquadrada? Como foi a trajetória de vida de Van Gogh até chegar à sua consagração internacional? Um homem, com as suas luzes e trevas, ancorou o criador de arte. Minnelli lança o seu olhar desvendador sobre uma criatura humana demais. A totalidade de um ser multifacetado.

Do amante ao crente. A faceta religiosa de Van Gogh é acompanhada de uma crítica à hipocrisia cristã vivida por um segmento clerical elitista, distanciado do calvário cotidiano dos destinatários dos seus projetos evangelizadores. Em tom indignado, Van Gogh emite o seu discurso direcionado a um Cristianismo apartado da
pobreza evangélica. Ele revela a sua descrença em relação à divindade oficial: “Acontece que não acredito no Deus do clero. Para mim ele está morto feito pedra”. No memorial de Van Gogh a inserção religiosa está inserida no processo de definição dos rumos a direcionar a sua vida. Na narrativa de Minnelli o evangelismo ocupa as cenas iniciais.

Nelas Van Gogh explicita o seu desconforto em relação à hipocrisia dos pregadores: “Porque não temos direito de pregar o Evangelho a essas pessoas a menos que soframos como eles. ...Não me importo com respeito! Estou tentando viver como um verdadeiro cristão. Não me importo com o lugar onde durmo. Vejam os túmulos de crianças no cemitério. Esfreguem o chão e catem carvão com as mulheres. Sujem essas roupas caras com o sangue e o suor dos mineiros mortos. Então venham me falar sobre o Cristianismo! Hipócritas!”. Capítulo evangélico na singular dimensão existencial experimentada por Van Gogh. Quadros pintados comunicam pensamentos. Projetam posições políticas.

Para entender as criações Van Goghianas convém transitar pelas múltiplas dimensões que fizeram dele a personalidade global apreciada pelos amantes das artes. Querendo encontrar-se do ponto de vista vocacional, Van Gogh traça objetivos a atingir: “Ser útil, trabalhar, construir algo no mundo”. “...Quero criar coisas que toquem
as pessoas. Quero comovê-las para que digam: “Ele sente profunda e ternamente”. “...Se quero ter sucesso como pintor, preciso romper a parede de ferro entre o que sinto e o que consigo expressar”.

Subjetivações de uma criatura desassossegada. As suas tocantes e comoventes pinturas refletem a complexidade de um homem sensível, intenso, terno e profundo. Uma história de vida para justificar a ideia segundo a qual não é nada fácil conquistar visibilidade e sucesso profissional no campo artístico. Van Gogh enfrentou dificuldades financeiras e para continuar investindo em projetos artísticos contou com a âncora afetiva do irmão Theo. Familiar responsável e suporte material na sustentação do talentoso irmão, Theo vocaliza uma ótica sentimental, fraterna e afetuosa sobre um Van Gogh multicor nas suas potencialidades humanas e criativas. Retrato pintado
por quem acompanhou os passos da genialidade louca e desafinada de Van Gogh: “Sei que ele é rude, brigão e desequilibrado ...mas dentro daquela mente atormentada, há algo maravilhoso. Naquelas cartas, há um homem dotado, um homem delicado e há muito mais beleza, paixão e força em seu trabalho do que na maioria das coisas que vemos em museus hoje. Queria saber se um dia as coisas melhorarão para ele. Parece-lhe impossível ter uma vida tranquila. ...Ou será que só vai encontrar mais solidão”. Desequilíbrio e intranquilidade que culminam na internação de Van Gogh em um manicômio. Mais um capítulo de uma vida dramática que chega a tornar-se pesada e reveladora de um potencial suicida. A comunicação entre Theo e o seu irmão, via cartas, pontua a narrativa. Relacionamento epistolar que suaviza a solidão do pintor. Nos escritos de Van Gogh são produzidos os sentidos de uma realização artística, as suas motivações e as inquietudes de quem quer expor o seu trabalho. Com pincel, tintas e imaginação, Van Gogh comunicou a sua personalíssima impressão sobre os seus tempos vividos. Dele para o seu fraternal cúmplice:

Querido Theo,

Você tinha razão. É ótimo estar em casa.
Viver em paz por um tempo.
Mais uma vez, graças a você,
Vejo a preciosidade da vida.
Algo a ser amado e valorizado.
Estou trabalhando de novo.
Você sabe que, durante anos,
Quando via algo que me tocasse
Sentia necessidade de desenhá-lo.
Colocá-lo no papel,
Não importa o quão tosco.
Pela primeira vez,
Comecei a me perguntar
Será esse o meu caminho?
Um homem e uma mulher trabalhando.
Sulcos em um campo arado.
Um pouco de areia, mar ou céu.
São temas tão difíceis
E ao mesmo tempo tão bonitos
Que vale a pena passar a vida inteira
Tentando capturar a poesia oculta neles.

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