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EMPREENDER: TALENTO NATO OU APRENDIZADO?
16/08/2011 16:55Confira a íntegra da entrevista que realizamos com José Carlos Dornelas – principal autoridade em empreendedorismo no Brasil
José Carlos Dornelas - Apesar de serem várias as definições sobre empreendedorismo, podemos notar que alguns aspectos sobre o empreendedor estão sempre presentes, como iniciativa e paixão pelo negócio, utilização criativa dos recursos disponíveis, aceitação de riscos e possibilidade de fracassar etc. Assim, podemos definir o empreendedor de maneira abrangente e ao mesmo tempo objetiva como aquele que faz acontecer, que se antecipa aos fatos e tem uma visão futura da organização. O discurso de que o empreendedorismo nasce com o indivíduo vem mudando cada vez mais. Acredita-se que o processo empreendedor possa ser ensinado e entendido por qualquer pessoa e que o sucesso é decorrente de uma gama fatores internos e externos ao negócio, do perfil do empreendedor e de como ele administra as adversidades encontradas no dia a dia.
O Brasil tem registrado uma das maiores taxas empreendedoras do mundo, o que, à primeira vista, pode ser entendido como bastante positivo. Entretanto, analisando a nossa realidade, sabemos que grande parte dos nossos empreendedores estão ali por necessidade, não por iniciativa, o que resulta em níveis de capacitação para a administração empresarial muito baixos. Qual o impacto disso para o país e como podemos profissionalizar esse grupo?
JCD – Além da dificuldade de acesso a crédito e menor capacidade de competitividade, a falta de preparo e a carência de conhecimentos gerenciais – onde se inclui a capacidade de planejar – são pontos cruciais que impedem o empreendedor fazer com que seu negócio cresça e se desenvolva. A questão do acesso ao crédito é um problema macro do país e não depende apenas do empreendedor isoladamente para ser resolvido. Por outro lado, questões gerenciais não só dependem dos próprios empreendedores, como deveriam ser priorizadas pelos mesmos. Estatísticas que tratam a dinâmica dos negócios no país são frequentes. Estes estudos permitem que se tomem ações e se criem políticas públicas para auxiliar o desenvolvimento do empreendedorismo nacional. Os que pretendem criar um novo negócio deveriam tomar conhecimento destes relatórios e de suas recomendações, o que hoje é algo fácil de se fazer acessando a internet. Com isso poderão aumentar suas chances de sucesso.
Até que ponto a burocracia e a alta carga tributária prejudicam o empreendedorismo no Brasil?
JCD – O custo Brasil é de longe um dos grandes entraves à competitividade das empresas brasileiras. Mesmo assim, muitos empreendedores conseguem se diferenciar no mercado através da inovação, criando vantagem competitiva em relação à concorrência e com isso podendo praticar margens diferenciadas. Como todos os empreendedores sofrem as altas cargas tributárias/fiscais/trabalhistas, devem ser buscadas soluções na inovação que permitam a diferenciação no mercado.
Ações como a Lei Geral das MPEs, o programa Microempreendedor Individual e outras iniciativas têm trabalhado no sentido de melhorar a administração dos pequenos negócios e trazê-los para a formalidade. Em outra frente, o Sebrae tem atuado muito bem no sentido da capacitar e orientar os novos empreendedores. Você acredita que, finalmente, estamos caminhando para um novo cenário, com negócios mais modernos e empreendedores mais profissionalizados?
JCD – Raros foram os momentos em que os que pensam em empreender no Brasil tiveram condições tão interessantes para colocar suas ideias em prática. Mas é preciso muita atenção, pois janelas de oportunidades não ficam abertas por muito tempo. Ser a "bola da vez" não significa que o Brasil entrou em definitivo para o grupo das grandes economias mais propícias ao empreendedorismo de longo prazo. Ainda faltam políticas públicas duradouras dirigidas à consolidação do empreendedorismo, como alternativa à falta de emprego e visando respaldar todo esse movimento proveniente da iniciativa privada e de entidades não governamentais que já fazem sua parte.
Qual a importância do plano de negócios?
JCD – Um plano de negócio é um guia, um mapa, um planejamento da empresa que vai ajudá-lo a atingir o seu objetivo. O empreendedor deve pensar em questões estratégicas, operacionais e de marketing. Com isso se espera que a empresa cresça e que o plano de negócios funcione como uma bússola, um instrumento de gestão.
Há, entretanto, quem ache que o plano de negócios, de certa forma, "engessa" o empreendedor. O que você pensa sobre isso?
JCD – O plano de negócios não é uma ferramenta estática. Pelo contrário, é uma ferramenta extremamente dinâmica. Com ele é possível identificar os riscos e propor planos para minimizá-los e até mesmo evitá-los, identificar seus pontos fortes e fracos em relação a concorrência e o ambiente de negócio em que você atua, conhecer seu mercado e definir estratégias de marketing para seus produtos e serviços, analisar o desempenho financeiro de seu negócio, avaliar investimentos, retorno sobre o capital investido... Enfim, você terá um poderoso guia que norteará todas as ações de sua empresa, mas que pode e deve ser atualizado e utilizado periodicamente.
Quem começa um negócio, inevitavelmente, sujeita-se a riscos. Evitá-los totalmente pode ser um entrave na hora de apostar em coisas novas que podem alavancar o empreendimento. Por outro lado, correr riscos desnecessários ou mal calculados pode gerar grandes prejuízos. Afinal, qual a melhor maneira de identificar os limites mínimos e máximos dos riscos que se pode e deve correr?
JCD – Os riscos são inevitáveis. Por isso, calculá-los adequadamente é fundamental para quem quer prosperar. É interessante criar um mapa do que pode falhar e dos impactos que o empreendimento pode sofrer caso isso ocorra. As chances de diluir esses riscos são muito maiores se você tiver esse mapa em seu planejamento e tomar as medidas preventivas. É interessante conhecer as variáveis macroeconômicas que mais influenciam seu negócio, definir as premissas para essas variáveis ao longo do tempo, determinar cenários otimistas, prováveis e pessimistas em seu planejamento etc.
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