"Preconceito existe e é muito forte. O mais doloroso é você conviver com alguém durante anos, e esta pessoa passar por ti no cruzamento de uma avenida e não te ajudar a atravessar, faz de conta que não te conhece e ainda passa calado para que você não reconheça a voz. É por isso que em determinados momentos você se questiona se está no caminho certo". O depoimento é da professora Rogéria Rodrigues, ela é deficiente visual e fez sua dissertação sobre o processo de inclusão do deficiente físico nas universidades piauienses. Atualmente, ela é pesquisadora do Núcleo de Estudos em Educação Especial e Inclusiva (NEESPI) da Universidade Federal do Piauí (UFPI). A conquista mostra que ela está no caminho certo e venceu uma batalha importante contra o preconceito. 

Com uma história de superação, Rogéria ingressou na UFPI em 2004, classificada em terceiro lugar ainda pelo PSIU (Programa Seriado de Ingresso na Universidade). As dificuldades foram inúmeras para concluir a graduação em Pedagogia. A maior parte das despesas foram bancadas pela própria aluna, que reforça o apoio incondicional da família e dos amigos para entrar na Universidade. "Na época que eu cheguei não tinha essa política dos Bolsistas da PRAEC, a gente tinha que se virar como podia. Eu pegava a xérox no mesmo lugar que as outras pessoas. Elas se sentavam no banco e começavam a ler, já no meu caso eu tinha que pagar alguém para poder gravar e, então, estudar", pontua.

A situação ganhou novos contornos no final de 2005, quando as professoras Socorro Paixão e Ana Valéria Marques criaram o NEESPI. O núcleo conduziu as discussões sobre a inclusão do deficiente físico no ambiente acadêmico. Foi nesse período que começaram as reformas pela Instituição, incluindo a criação de rampas e acessos a cadeirantes, a criação de duas salas na Biblioteca com impressoras braile, computadores e softwares adaptados aos usuários.

Materiais adaptados dão indepedência para a pesquisadora 

Quanto aos bolsistas, a UFPI deu início a esse projeto no ano de 2007. A prática visa fornecer um suporte para o aluno com deficiência física que passa a receber o auxílio de um colega de turma. O colega recebe uma bolsa em dinheiro por conta dos serviços prestados. Rogéria passou a contar com o auxílio deste benefício ainda na graduação e durante o mestrado.

Núcleo de Acessibilidade

O NEESPI promove trabalhos acadêmicos envolvendo a inclusão de pessoas com deficiência mental, autismo, deficiência física e pessoas em estado de risco social. Este ano, será construído o Núcleo de Acessibilidade que irá fornecer auxílio aos alunos que possuem algum grau de deficiência.

O novo órgão contará com psicólogos, pedagogos, assistentes sociais, intérpretes de libras, tradutores e guias. Parte dos equipamentos necessários, como impressoras e máquinas braile, scanner com voz, kits de lupas, cadeira de rodas, já está nos domínios da Universidade. De acordo com a Pró-Reitora de Assuntos Comunitários e Estudantis, Profª Drª Cristiane Batista, a ideia é levar também o núcleo para fora de Teresina. "A princípio, os câmpus fora de sede não tem o núcleo de acessibilidade e a gente tem essa intenção de implantar um núcleo em cada Campus, por enquanto o núcleo de Teresina é o que está mais adiantado. Consequentemente, para os alunos com deficiência não ficarem esperando, nós vamos mandar, ainda esse ano, materiais para todos os centros", comentou.

Rogéria Rodrigues, que precisou fazer prova oral por não ter material adaptado, assiste hoje a chegada do Núcleo com entusiasmo. "Eu espero que possa atender a todos os deficientes da Universidade, que isso possibilite torná-los mais autônomos. Esta acessibilidade não deve ficar só no núcleo, mas pode ser um multiplicador de inclusão na Universidade. Criar materiais que fiquem na Biblioteca, no Centro de Ciências da Educação (CCE), e na Instituição como um todo", comentou. A professora, que também é mãe, se prepara agora para, dentro de alguns anos, fazer o doutorado.

Rogéria se prepara agora para o doutorado