Brasil Brasil Acesso

Notícias

Laboratório de Leishmanioses aponta perspectivas no controle da doença

Laboratório de Leishmanioses aponta perspectivas no controle da doença

31/08/2015 15:48

Mais conhecida como calazar, a leishmaniose visceral é a segunda doença parasitária que mais mata em todo o mundo. Ao lado de doenças como a malária (a mais mortal de todas), a doença de Chagas, a doença do sono e a dengue, é uma das mais perigosas doenças tropicais, integrando também, o quadro das mais negligenciadas.

Pesquisadores estudam novas maneiras de controlar a leishmaniose visceral

Febre de longa duração, fraqueza, perda de peso e anemia. Esses são os principais sintomas dessa doença crônica e sistêmica, que atinge cachorros e seres humanos. A infecção é provocada pela picada do mosquito-palha ou birigui, que transmite o protozoário para a corrente sanguínea do hospedeiro, atingindo o sistema imunológico, podendo ser fatal, caso não receba o tratamento adequado.

Conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença registra cerca de 500 mil novos casos humanos com 59 mil óbitos anualmente. Somente na América Latina, já foi detectada em 12 países, sendo que aproximadamente 90% dos casos acontecem no Brasil, que apresenta uma média de 3.500 pessoas infectadas e 200 mortes por ano. A estimativa dos pesquisadores é de que para cada humano doente, existam 200 cães infectados.

Diante dessa realidade, o Laboratório de Leishmanioses da Universidade Federal do Piauí (UFPI) tem investido em pesquisas nessa área, tanto na parte clínica, como na fisiopatogenia, com foco na pesquisa avançada da doença. Coordenado pelo Prof. Dr. Carlos Henrique Nery Costa, médico infectologista e professor do Departamento de Medicina Comunitária da UFPI, o laboratório possui um grupo de pesquisadores bastante diversificado, onde diversas áreas da doença são abordadas e pesquisadas, sempre colhendo resultados importantes para a comunidade científica.

Prof. Dr. Carlos Henrique Nery Costa, Coordenador do Laboratório de Leishmanioses/UFPI

"O nosso laboratório têm várias linhas de investigação. Estamos com uma média de 15 projetos em andamento, desenvolvidos por professores, alunos da graduação de diversos cursos, mestrandos e doutorandos. De um lado, nós procuramos responder por que a leishmaniose visceral, o calazar, mata, e para isso precisamos entender a fisiopatologia da doença grave. Compreender isso pode ser muito importante para salvar as dezenas de vidas que se vão no Piauí, centenas no Brasil e milhares no mundo afora. A outra pergunta que procuramos responder é como fazer para controlar a doença", explica o Coordenador.

Segundo a Profa. Dra. Dorcas Lamounier Costa, especialista na área de Pediatria e Infectologia, docente do curso de Medicina da UFPI e uma das coordenadoras dos projetos desenvolvidos no Laboratório de Leishmanioses/UFPI, o calazar apresenta atualmente uma taxa de letalidade em torno de 10%. Isso significa que 1 em cada 10 pacientes com calazar no Brasil, morre. "Isso é inadmissível. É um índice mais alto do que apresentam países endêmicos da África, como Sudão, por exemplo. A leishmaniose visceral é uma doença com rápida expansão em todo o mundo. No Brasil essa doença tem se expandido em grandes cidades. Começou em Teresina, São Luís, e agora avança em todo o centro sul, tornando-se uma ameaça nacional", avalia.

Profa. Dra. Dorcas Lamounier Costa coordena pesquisas no Laboratório

Convidada a participar do 1º Simpósio de Vigilância as Zoonoses e do 2º Fórum de Leishmanioses, em Palmas, e da Semana Nacional de Combate às Leishmanioses, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), no Rio de Janeiro, realizados neste mês de agosto, a Profa. Dra. Dorcas Lamounier apresentou os resultados obtidos por meio das pesquisas realizadas no laboratório.

"Participo desses encontros como representante do Laboratório de Leishmanioses da UFPI, realizando uma apresentação clínica da leishmaniose visceral, dos fatores de risco associados à infecção e à evolução para as formas graves e morte. Apresento os resultados de estudos realizados no laboratório sobre a patogenia do calazar, a influência da carga parasitária sobre a apresentação da doença, expondo também, uma proposta de quantificação do risco de morte através de um sistema de escores clínicos", destaca.

Doença negligenciada

Apesar de todo o envolvimento do Ministério da Saúde, tanto no tratamento como na prevenção da doença, o calazar ainda integra o rol das principais doenças tropicais negligenciadas (DTNs). "A leishmaniose visceral é chamada uma doença negligenciada, porque se analisarmos o investimento dado a outras doenças como a AIDS, a dengue, por exemplo, percebemos que o que é investido em relação ao calazar é ainda muito pouco, sendo que a leishmaniose mata muito mais pessoas que a dengue. Para essas doenças há também muito investimento da indústria farmacêutica, o que não acontece com o calazar, que trabalhamos sempre com as mesmas drogas", enfatiza a Profa. Dra. Dorcas Lamounier.

O tratamento oferecido é, portanto, basicamente o mesmo de três ou quatro décadas atrás, apresentando poucas mudanças, e caracteriza-se por ser quase sempre muito tóxico, com uma eficácia, embora relativamente alta, em torno de 95%, mas que se tratando de uma doença letal, torna-se insuficiente.

A professora ressalta, no entanto, que as autoridades de saúde já estão desviando o olhar para mais perto da leishmaniose visceral. O Ministério da Saúde promoveu recentemente um ensaio clínico para testar a eficácia e a segurança das antigas drogas, mas que, infelizmente, pouco acrescentou em termos de inovação.

Novas perspectivas de tratamento

Os estudos realizados no Laboratório de Leishmanioses da UFPI apontam na perspectiva de identificar a influência dos fatores sociais, demográficos, biológicos, do parasita, do vetor, da resposta do hospedeiro, que estejam predispondo às formas graves e à morte.

"Nós não sabemos exatamente o porquê, não sabemos se essa doença das Américas é mais grave, se nós demoramos mais a diagnosticar, se os pacientes têm uma condição basal de saúde mais delicada, que predispõe à morte. Nós temos, portanto, investido muito nessa área que chamamos de calazar grave. Tratar o paciente com calazar, não como uma doença rapidamente curável, mas como uma doença potencialmente letal", enfatiza a Profa. Dra. Dorcas Lamounier.

De acordo com o Prof. Dr. Carlos Henrique Nery, o controle da doença está entre os principais objetivos das várias linhas de pesquisa realizadas no laboratório.

"Para isso, trabalhamos com algumas linhas de investigação, como: identificar as pessoas que estão transmitindo a doença para a comunidade; avaliação de estratégias de controle que já são instituídas pelo Ministério da Saúde; abordagem de prevenção, ou seja, estamos desenvolvendo uma vacina, que nós chamamos de vacina viva atenuada, ainda no seu estágio muito inicial, altamente complexa, mas que pode resolver o problema da falta de imunidade duradoura nas vacinas que nós chamamos de segunda geração. Estamos tentando compreender também a questão da interação da paisagem urbana com a transmissão da doença, para que, quem sabe no futuro, possamos ter uma tecnologia limpa, que apenas manuseando a paisagem urbana seja possível controlar algumas doenças que são transmitidas por insetos e vetores", explica o professor.

Para a Profa. Dorcas Lamounier, já que não é possível evitar que as pessoas adoeçam, a solução é focar em táticas que evitem que elas morram. "As pessoas continuarão adoecendo, infelizmente, nós ainda não temos essa arma para evitar que a leishmania chegue até as pessoas, e elas desenvolvam a doença. O que nós queremos é encontrar armas que nos possibilitem diagnosticar precocemente, tratar eficazmente, entender os mecanismos fisiopatológicos da doença, e que nos levem a descobrir novas alternativas para o tratamento, reduzindo assim, a mortalidade", conclui.

Notícias

publicidade publicidade publicidade publicidade publicidade publicidade publicidade publicidade publicidade

© 2010, Universidade Federal do Piauí - UFPI   Campus Universitário Ministro Petrônio Portella - Bairro Ininga - Teresina - PI
Coordenadoria de Comunicação Social, (86)3215-5525, Fax (86)3215-5526, comunicacao@ufpi.edu.br
CEP: 64049-550 - Todos os direitos reservados.