"No momento em que a lâmina do bisturi toca a sua pele, nós nos importamos sim, agradecemos pela sua vivência e rezamos pelo o encaminhamento de sua alma", afirma a Profª Carla Maria Leite, que trabalha há 25 anos com anatomia humana, dando início a cerimônia de homenagem ao Cadáver Desconhecido, promovido pelo Departamento de Morfologia. A solenidade aconteceu na manhã desta sexta-feira (07), e foi realizada no Setor de Anatomia Humana.

Mesa de abertura da homenagem ao cadáver desconhecido

A abertura do evento contou com a participação do reitor, o Prof. Dr. José Arimateia Dantas Lopes; a vice-reitora, Profª Drª Nadir Nogueira; a Pró-Reitora de Assuntos Estudantis e Comunitários, Profª Drª Cristiane Torres Bezerra; a Diretora do Centro de Ciências da Saúde (CCS), a Profª Drª Regina Ferraz e a Coordenadora do setor de anatomia, Profª Selma Maria Moura.

Prof. Dr. Arimatéia Dantas Lopes destaca as novas instalações para a área da saúde

O Prof. Dr. Arimatéia Dantas Lopes, em nome da administração superior da universidade demonstrou o respeito aos cadáveres utilizados como estudo. "Nós conseguimos juntos com a Prefeitura Municipal de Teresina, a licitação de 2 lotes para a construção de um mausoléu no cemitério São João, e além disso o Departamento de Morfologia ganhará um novo prédio com pavimento superior", ressaltou o reitor.

Durante o evento houve apresentações artísticas, como Suzana Fontenele e Bruno Oliveiros, alunos do Curso de Biologia, cantaram a adaptação "oração ao cadáver desconhecido", já Marylya Carneiro, estudante de Nutrição, recitou um poema. A solenidade se encerrou com a missa de Ação de Graças pelo "Cadáver Desconhecido", presidida pelo Padre Amadeu Matias.

Confira a Oração ao Cadáver 

Acorde estudante! Estás tão absorto... Afinal, aqui dentro, qual de nós é o morto?

Calma! Não te assustes, sou eu quem te fala, mesmo porque só restamos nós dois nesta sala!

Pega aí o seu banquinho,te acomodes aqui... Põe de lado estas pinças, guarde o teu bisturi!

Fiques bem à vontade, bata um papo comigo. Pois, já que estudas em mim, quero ser seu amigo!

Já faz tempo que espero esta oportunidade de ouvir seus lamentos, escutar tuas verdades.

Sei que estás com problemas, eu já pude notar, o que é que há meu garoto, não vais mais estudar?

Eu me lembro, no início, eras tão sonhador, tu te chegavas, me estudavas com tanto fervor,

que eu pensava comigo, este aí tem valor. Há de ser bom médico, nunca vai ser DOUTOR.

Mas, depois suas visitas foram rareando. Tu me olhavas de lado, ias te esquivando,

e nos dias de aula, quando as manhãs iam altas, na presença de todos eu sentia sua falta.

Sei que tens bons motivos, isto lá é verdade, mas, vê se deixas de lado esta sensibilidade!

Sim, eu sei que é um sentimento belo e profundo, mas do que adianta, tu vais mudar o mundo?

Não, não te preocupes, não te julgo vadio, sei que tu tens orgulho, sei que tem teu brio,

sei que tua revolta não é comigo, e sim, contra este ensino falido e desumano que te é impingido.

Mas escuta menino, dê a volta por cima, veja quanta beleza tem esta medicina!

Estas coisas de agora são ossos do ofício, valoriza a vitória, o maior sacrifício.

Tome em mim um exemplo, meu irmão querido, retroceda no tempo, que hás de me dar razão.

Imagines, eu vivo e tu já formado, tendo a oportunidade de me haver curado.

E a gente batendo este papo em total alegria, sem que eu tivesse deitado nesta pedra fria.

Êpa, que é que eu estou vendo, estás chorando garoto? Vamos enxugar o pranto deste rosto maroto,

levante a cabeça e me dê um sorriso, reaja com raça que isto é preciso, vá lá fora e te cubra com raios de sol, se te virem chorando, diga que foi o formol.

Autor desconhecido